22 de Abril a 30 de Abril de 2022
Vista da Exposição. Fotografia: Samuel Duarte
EXPOSIÇÃO COLECTIVA:
David Leal, Diogo Henrique, Hannah Archambault, Hugo Cubo, Hugo Cantegrel, Luísa Tudela, Madalena Anjos
CURADORIA:
Francisca Portugal
Segurança Duplex: Bem-vindos… mas chegaram tarde, a festa já acabou. Vieram tantas pessoas que também não conseguiriam entrar todos… Perderam a música, a dança, os namoricos, as ilegalidades e as fotografias encenadas. Podem ficar, mas não vão encontrar muito mais do que estão a ver.
Público: Então, mas nós viemos para dançar, está aqui no cartaz e tudo! Isto é uma publicidade enganosa. É uma festa dos 70’s!? Diz aqui: Stayin Alive, das seis às nove.
Segurança Duplex: Atenção! Há várias interpretações desta música do ano de 1977. A mais convencional, é a que se baseia no significado da letra e não no seu ritmo. Eu explico: o cantor não quer deixar que os desafios da vida o coloquem num estado depressivo. Em vez disso, dança na direção oposta dos seus problemas. E, no processo de o fazer, convoca outros que estão numa situação semelhante à sua a lutar para continuar vivos na grande cidade.
Público: Uau! O mundo não mudou nada, continua tal e qual irl…
Segurança Duplex: As pessoas que aqui dançaram encontraram neste lugar a possibilidade do desprendimento social. Ao estabelecer uma comunidade sem hierarquias, por entre o escuro, no calor, com o ruído da música e o cansaço do corpo, encontrou-se uma liberdade transversal em que todos se sentiram descontraídos e felizes. Exatamente o mesmo que a letra de Stayin Alive revela: a procura coletiva de alguma coisa que nunca chegará, porque já aconteceu. É a melancolia, que por sua vez se confunde com umas batidas groovy e uns falsetes.
Público: Então, mas se não há festa, o que estás a guardar?
Segurança-Vigilante Duplex: A partir do momento que a festa acabou, tornou-se num lugar expositivo muito sério: foi aqui que ficaram as memórias simbólicas. Vejo um certo desânimo projetado neste espaço, agora mais vazio, como um retrato desse sentimento nostálgico que também vocês procuram nas festas throwback e nos conjuntos vintage. Esta exposição é sobre o limiar de início e fim de uma era e sua correspondente comunidade abstrata, que se junta para celebrar algo sem significado concreto. Em cada dobra deste espelho verão também a presença de todos elxs que já cá estiveram e estarão. É um lugar contraditório onde impera a ligeira vontade de mudança e, em simultâneo, da circularidade dos acontecimentos. Fica ao vosso critério se será ou não um convite para o recomeço de um futuro em festa.
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